APANHA DA AZEITONA

29 outubro 2015










No sábado passado, dia 24 de Outubro, Alviobeira voltou "a acontecer", com a Apanha da Azeitona, uma atividade promovida pelo RFEA, no âmbito do projeto “Ciclo do Azeite”.
Trata-se de uma atividade cujo objetivo passa por valorizar a terra e a agricultura mantendo vivas as tradições, usos e costumes de antigamente e quem sabe no futuro promover o desenvolvimento social, económico e cultural da região e o enraizar de laços afectivos à terra e à comunidade.
A iniciativa pretende dar a conhecer todo o processo de transformação do azeite que vai desde a apanha, à escolha e moagem da azeitona num lagar (o mais tradicional possível) e termina na produção do azeite.
Para além de todos os objetivos, a apanha da azeitona pretende, acima de tudo, despertar os sentidos dos participantes e ser um momento de festa e convívio entre todos.
Se durante os últimos anos, houve um afastamento das pessoas, principalmente dos mais jovens, ao cultivo da terra, aos poucos a tendência é de reverter a situação com o aumento da curiosidade e interesse da população mais jovem, que nestes anos de crise, passou a ver a agricultura como uma alternativa à falta de trabalho. Tem-se observado um regresso à terra, na esperança de que esta devolva o esforço, porque em tempo de crise e com a falta de emprego, a terra ainda parece fazer sentido.
Alviobeira sempre esteve ligada à actividade da extracção do azeite, de grande significado no que respeita à parte económica do agregado familiar, embora apresente-se nos dias actuais com menor relevância, por um lado devido à falta de tempo ou de interesse e à redução do número das nossas oliveiras, que ao longo dos anos foram sendo arrancadas. Parece ficar bem lá longe, a lembrança dos grandes olivais, de grande produção de azeite, de grande alegria, apesar do árduo trabalho.
O “nosso” olival fica situado na Quinta da Runfeira, associada a tantas memórias, não fosse ali que ficavam os Ranchos da azeitona que outrora vinham das Beiras e que por estas terras permaneciam durante todo o tempo da apanha da azeitona.
Como é hábito ouvir-se está tudo diferente, até o tempo, e como tal a apanha da azeitona começa hoje em dia muito mais cedo do que em tempos passados. Antigamente era geralmente nos inícios de Novembro (por tempos mais recuados em Dezembro) que se procedia à apanha da azeitona, a estender-se, por vezes, até ao mês de Janeiro.
Noutros tempos, o lagar de Alviobeira, hoje fechado, era nesta altura o ponto de encontro dos homens da aldeia, que ali passavam grande parte do seu tempo, para trabalhar, para saber como o azeite estava a fundir e para conviver.
O cheiro quente e intenso do lagar permanecia no ar durante vários meses.
Em Alviobeira, continua a tratar-se e a cuidar-se do que resta da pertença dos nossos antepassados, que as mãos e o conhecimento de quem sabe e os herdou teima em não deixar morrer, com alguma fé no futuro e (ainda) nas gerações futuras.
..."Em Portugal, a cultura da Oliveira perde-se nos mais remotos tempos. Segundo rezam as crónicas, os Visigodos já a deviam ter herdado dos Romanos e estes, possivelmente, tinham-na encontrado na Península Ibérica. Por sua vez, os Árabes mantiveram a cultura e fizeram-na prosperar, sendo que a palavra Azeite tem origem no vocábulo árabe al-zait, que significava "sumo de azeitona".
Até finais de século XII, em Portugal, não é mencionada a cultura da oliveira nem o interesse económico da sua produção. Contudo, no século XIII, o Azeite já ocupa um lugar importante no nosso comércio externo, posição que manterá posteriormente, podendo afirmar-se que esta gordura era um produto muito abundante na Idade Média.
Mais tarde, são as ordens religiosas que, com o seu papel na revitalização da agricultura, dedicam especial atenção ao fabrico do Azeite.
Resistente à seca, de fácil adaptação aos terrenos pedregosos, a oliveira tornou-se numa presença constante na agricultura portuguesa..."
Antigamente desde que as talhas tivessem azeite, os barris vinho e as arcas milho, o sustento da família, que era normalmente numerosa estava assegurado
Desde há muito que os benefícios do azeite são conhecidos para a saúde, não é por acaso que o azeite faz parte da dieta mediterrânica, hoje património imaterial da humanidade.
O Azeite sempre esteve presente nos recantos da vida diária dos nossos antepassados: era usado em mesinhas caseiras, males da alma, alimentação e Iluminação.
E se já conhecíamos os benefícios do azeite, ficámos no sábado a conhecer os da apanha da azeitona. Descobrirmos ser uma otima terapia para o stress e combate à depressão, não fosse o cenário único, a sequência do trabalho relaxante e as conversas verdadeiras sessões de psicologia.
Sendo a água um ser que nos premeia, um banho de chuva lavou-nos a alma e limpo-a de todas as impurezas, ficámos como a nossa azeitona depois de escolhida e limpa.
O tempo chuvoso, que se agravou da parte da tarde, foi convidativo a um almoço um pouco mais demorado. Foi um momento único de cheiros, sabores e saberes.
Existem momentos que passam e não deixam nada. Desaparecem no ar, esfumam-se... mas há outros ficam para nunca serem esquecidos, é isso que fica. Porque até mesmo os pequenos momentos, aqueles que ninguém liga, os insignificantes, têm cheiro. Um cheiro especial e só deles.
Este sábado ficou o cheiro e o sabor a queijo, a chouriço, a passas de figo, a nozes, a aguardente, a vinho novo, a pão cozido, a azeitona/ (azeite), a terra molhada... Cheiros que ficam na pele, na memória, no olhar e que deixam saudades.
Cheiros que contém mundos..
E com tão pouco... é tão fácil sentirmo-nos tranquilos e felizes!
 

3º MERCADO À MODA ANTIGA

13 outubro 2015

FOTOS: José Júlio Ribeiro

Pelo segundo ano consecutivo a chuva marcou presença no Mercado à Moda Antiga, mas este realizou-se, as pessoas marcaram presença e os produtos venderam-se. A verdade é que já vamos na terceira edição do Mercado, sendo que os últimos dois foram realizados debaixo de chuvas e ventos fortes. Diz a sabedoria popular que não há duas sem três, nós ficamos à espera que sejamos a exceção à regra e que para o ano o sol nos brinde com a sua presença, possibilitando a realização do mercado como planeado e com toda a grandiosidade que ele merece. Quando há coisas que não controlamos, nem compreendemos, o melhor é não perder muito tempo na busca de explicações, e deitar mãos à obra. Foi isso que fizemos, com a convicção que é no meio das dificuldade que se encontram as oportunidades. E este mercado foi de fato uma oportunidade única de reviver mais uma vez as tradições dos nossos antepassados, de encontro e de convívio, de dinamização da nossa terra e um espaço de aprendizagem e de busca de conhecimentos. Convictos de que tudo o que não nos destrói, torna-nos mais fortes e equipados com “couraças” resistentes e destemidas lá enfrentámos o ex-furacão Joaquim, que mesmo depois de deixar de ser furacão não abdicou de uma presença no nosso mercado, levando-nos a desconfiar que este “Joaquim” gosta do que é bom. E se uma depressão tornou o tempo instável, a nós deu-nos força e coragem para enfrentar mais este desafio. Desde há algum tempo que iniciámos os preparativos para o mercado, era nossa intenção fazer ainda mais e melhor que as edições anteriores. Fizemos reuniões, falámos com artesãos e donos de animais, preparámos as nossas próprias atividades, com o objetivo final de proporcionar às pessoas um mercado não só divertido mas didático. Se por um lado toda a logística do mercado, nos impede de o adiar, sugestão dada por alguns, por outro lado queremos retratar a realidade como ela era, simples e crua. Antigamente os Invernos eram longos e rigorosos, a vida das gentes do campo era dura e a venda dos produtos no mercado permitiam angariar algum dinheiro para comprar o porco que haveriam de criar e matar lá para o Natal, a compra do enxoval das filhas, a compra das mantas da azeitona e outros “luxos”. E houvesse sol ou chuva, os mercados faziam-se da mesma forma. Quantas vezes regressavam a casa, com uma molha no corpo, com os produtos não vendidos e sem dinheiro na algibeira. No sábado, os trabalhos começaram logo pela manhã. A construção dos currais para os animais, a taberna, a seleção dos produtos, a marcação dos preços, a confeção bolos e salgados, ocupou todo o dia de sábado, intercalado com as idas ao barbeiro para dar ainda maior realidade ao mercado através da caracterização das barbas e bigodes dos homens. Uma noite mal dormida, tamanha era a ansiedade e o domingo amanhecia para nosso desespero com chuva. Perante a instabilidade do tempo, os nervos começaram a apoderar-se de nós, parecia que tudo corria mal e nem as rezas da Ti Júlia nos pareciam valer de alguma coisa. Mas perante o “nosso” armazém cheio de produtos para vender, não havia outra opção, do que colocar as coisas na rua e ter fé, fosse o que Deus quisesse. E mesmo desfalcados, com muitos componentes doentes, obrigando a uma ginástica mais apertada, tudo se fez. As pessoas foram aparecendo e os amigos, pessoas tão importantes na nossa vida e na concretização do que somos hoje não faltaram. Os que fizeram questão em almoçar no nosso mercado, acabaram por fazê-lo de chapéu aberto, dando provas de que a persistência e a coragem não são sentimentos apenas nossos mas partilhados por tantos outros que tornam este mercado possível. Não foi o mercado que planeámos e sonhámos, era impossível alguns artesãos estarem presentes debaixo de chuva, e muitos dos donos de animais optaram por não virem e os presentes por resguardar os seus animais. Mas foi o mercado possível. A concertina ouviu-se e o fado cantado à desgarrada, pelos nossos amigos de Carregueiros, que desde já agradecemos a presença e a ajuda, (são momentos destes que nos unem e nos tornam mais próximos) animaram os presentes. Para maior animação do mercado, não faltou a nossa água-pé, os licores da Ti Júlia, os velhoses acabados de fazer da comadre Luísa, os pregões, o bailarico e os robertos. E um mercado faz-se não só de venda, mas de emoções, e este foi um mercado cheio de emoções fortes, sempre importantes por serem únicas, intensas e verdadeiras. Por fim um agradecimento a todos aqueles que tornaram o mercado possível e um desejo: que esta terra e esta gente de sonhos férteis, abençoada pela água, fortalecida pela aspereza do tempo e enriquecida pelo amor genuíno que brota em corações simples, possa criar raízes fortes, crescer e fortificar.
 






MERCADO À MODA ANTIGA

06 outubro 2015

MOSTRA DE CHEIROS E SABORES

Numa terra em que os cheiros são intensos e únicos e os sabores ficam gravados para sempre na memória, uma Mostra de cheiros e sabores, com a participação de todos os lugares da paróquia só poderia ser um sucesso. Dizem que quando é para dar certo, até os ventos sopram a favor, e aqui os ventos sopram de todos os lugares da paróquia que une esforços e congrega energias para a realização deste evento. Gosto particularmente desta proximidade, desta forma de encontro, destes dias de convívio que proporcionam o contacto, as conversas, os sorrisos à volta de coisas simples mas essenciais à vida. O adro da Igreja foi o lugar escolhido desde sempre para a realização dos "Cheiros e Sabores" e não podia ser melhor, lugar único e de uma beleza infinita, rodeado de verde, com o pinhal da quinta ali mesmo ao lado e com uma vista a perder-se no horizonte, local onde as palavras do poeta ganham ainda mais força…"da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do universo por isso a minha terra é tão grande como outra terra qualquer… nas cidades a vida é mais pequena que aqui na minha casa no cimo deste outeiro…" A Mostra de Cheiros e Sabores, foi uma iniciativa do Conselho Pastoral e Paroquial de Alviobeira, à qual o Rancho de Alviobeira se associou, fazendo neste dia o seu Encontro de Folclore Infantil e nos últimos dois anos realizando os quadros etnográficos em estátuas vivas sobre o tema do evento, o ano passado dedicado às vindimas e este ano ao tema arte e ofícios. Somos como o arroz doce e se há festa nós estamos lá. E nós estivemos por lá, como aliás estamos durante todo o ano, em diversas atividades organizadas por nós ou por outras associações, organizações ou coletividades, não porque gostamos de aparecer, mas porque gostamos de fazer (às vezes tão discretos que quase invisíveis). Este é um trabalho continuado, longo, difícil e exigente, mas recompensado pela presença de muitos e pelas palavras e gestos de tantos outros. Este é talvez o único evento que congrega todos os lugares da paróquia, antiga freguesia de Alviobeira, hoje integrada na união de freguesias Casais Alviobeira e que só por isso vale a pena ser realizado e acarinhado. Quem sabe se no futuro o evento não poderá ser alargado a toda a freguesia, e ganhar ainda uma maior dimensão, sendo talvez esta uma das formas senão a única de trabalhar no futuro. Não é por acaso que o Rancho de Alviobeira tem nos últimos anos realizado diversas atividades por todos os locais da freguesia, fazendo o ciclo do pão no Chão das Eiras, levando o Intimidades a Ceras e aos Calvinos e realizando as estátuas vivas em Ceras, havendo já a promessa de no próximo ano ir até ao Ventoso e Portela de Nexebra. Participaram no evento, os lugares de Alviobeira, Ceras, Chão das Eiras, Freixo, Manobra, Portela de Nexebra, Benfica e Ventoso, com tasquinhas dedicadas ao tema Artes e Ofícios, tendo sido contemplados, o tanoeiro, tecedeira, cesteiro, sapateiro, moleiro e carpinteiro. As tasquinhas que capricharam no que respeita à decoração estavam igualmente recheadas dos mais variados petiscos dos doces aos salgados. Muitas são as pessoas envolvidas neste evento, que não poupam esforços na decoração das suas tasquinhas e na recolha de alimentos para vender nesse dia. Um esforço louvável, que deve ser reconhecido por todos, nem que seja apenas através de uma visita. Por volta das 15H30 e durante aproximadamente uma hora, apresentámos mais uma vez os nossos quadros etnográficos em estátuas vivas, também eles dedicados ao tema artes e ofícios e a animação foi total. A tarde de folclore Infantil teve início pelas 17H30 e contou com a presença do Grupo da Casa, como não podia deixar de ser, com a Escola de Etnografia da Casa do Povo de Cacia, que regressou a Alviobeira após 10 anos de ter estado por estas bandas e a Escola de brincadeiras tradicionais do R.F da Linhaceira. Perante os olhares embevecidos de toda a família, os “nossos” pequenos dançaram e encantaram. De referir que a Mostra de Cheiros e Sabores foi o momento escolhido para a apresentação do quadro que o artista Tó Carvalho pintou sobre o centenário da primeira guerra mundial e cuja exposição em Alviobeira já tínhamos prometido. Como o evento é uma parceria entre o Rancho e o Conselho Pastoral Paroquial de Alviobeira, o resultado financeiro do evento será repartido, sendo que a parte do CPP é entregue rotativamente às diversas capelas da paróquia, sendo este ano contemplada a capela dos Chão das Eiras. Como o "nosso" trabalho não se esgota numa única atividade, aqui estamos nós a preparar o III Mercado à Moda Antiga que promete surpreender e que terá lugar já no próximo dia 11de Outubro na Rua do Comércio e Rua da Fonte em Alviobeira, durante todo o dia. Será uma oportunidade única para passear, divertir-se, comer, fazer compras e passar uma tarde diferente em ambiente familiar. E já sabem, nós estaremos por cá faça sol ou faça chuva, porque Alviobeira acontece!